Está aberta a chamada, a ser realizada anualmente, para o Programa de Cátedras CALAS-IEAT, promovido pelo Centro Maria Sibylla Merian de Estudos Latino-americanos Avançados (CALAS) e pelo Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (IEAT) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O programa é administrado pelo IEAT e patrocinado pelo CALAS. A Cátedra abarca uma estadia de três meses do pesquisador no IEAT. De acordo com o programa de pesquisa do CALAS, espera-se que os(as) candidatos(as) contribuam com o desenvolvimento de novos enfoques metodológicos e analíticos para compreender as transformações e crises na América Latina.

Para mais informações sobre o CALAS, dirija-se à página do Centro: www.calas.lat

 

Enfoque temático da Chamada para a Cátedra 2023: a crise da democracia e as reivindicações de cidadania

A Cátedra CALAS-IEAT, ubicada na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), convoca especialistas em estudos sobre a América Latina que estejam interessados em pesquisar experiências de crise na região e que queiram abordar problemas do presente, assim como explorar perspectivas de enfrentamento destes, promovendo, em particular, uma pesquisa transdisciplinar sobre a crise da democracia e as reivindicações de cidadania nas Américas na atualidade. A pesquisa inclui os processos políticos, sociais e culturais que provocam a crise democrática, assim como aqueles que levaram a reivindicações de extensão da cidadania e dos direitos civis e democráticos. Ao mesmo tempo se trata de desenvolver propostas de revisar, fortalecer e ampliar a participação democrática.

A crise da democracia na América Latina entrelaça-se estreitamente com tendências globais, mas ela também apresenta características peculiares que emergem das circunstâncias históricas regionais e locais. Nos anos oitenta do século passado, as transições pós-ditatoriais e pós-guerra implementaram a democracia em quase todo o subcontinente, a qual se consolidou nos anos noventa. Enquanto que na primeira década do novo milênio surgem regimes neo-populistas (“socialismo do século XXI”) é na segunda década que aparecem sinais da “fadiga das democracias” (Alcántara Sáez). No subcontinente, a participação democrática concentra-se primeiramente no aspecto eleitoral do exercício democrático do poder, o que levou a uma priorização da liberdade de expressão e associação, eleições transparentes, extensão do sufrágio e da eleição de cargos públicos. Por diversos motivos, no entanto, as administrações públicas democraticamente eleitas só pontualmente avançaram na implementação de políticas públicas que beneficiassem a sociedade em geral e não a grupos clientelares. As democracias, assim, não conseguiram satisfazer as crescentes demandas sociais, o que provocou diversos estouros sociais as quais se intensificaram em constelações de crise econômica. Tendências de frustração social cristalizaram-se no âmbito das classes medias, particularmente nos novos segmentos deste estrato social, que são mais vulneráveis. Ao mesmo tempo, o fortalecimento de movimentos sociais expandiu as reivindicações de cidadania, como, em primeiro lugar, a ampliação da participação econômica, no caso de políticas de redistribuição de renda, mas também a extensão do reconhecimento dos direitos de minorias de gênero e de grupos étnicos. Contra os movimentos cidadãos e sua luta por ampliar os direitos democráticos, no entanto, se organizou, na segunda década do milênio, uma agrupação de forças determinadas a reagir e deter a generalização do acesso aos direitos civis. Estes grupos, em seus esforços de reverter a democratização da sociedade, tendem a favorecer modelos políticos autoritários e não receiam recorrer ao uso da força como um recurso político legítimo. Eleições bastante crispadas nos últimos anos levaram ao poder uma nova geração de líderes populares, com propostas e práticas ainda pouco conhecidas e debatidas no Brasil. Desde 2018, líderes de esquerda chegaram à presidência do México, Argentina, Bolívia, Peru, Honduras, Chile e Colômbia, além da recente eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Convidam-se as Ciências Sociais e Humanas a realizar abordagens abrangentes sobre as crises da democracia nas Américas e a aprimorar o aparato teórico-metodológico para realizar uma análise mais aguda de seus processos. Por um lado, incentiva-se estudar os diversos modos de transformação social, econômica, política e cultural que provocaram a polarização das sociedades decorrente das reivindicações de ampliação da representação democrática e das crescentes reações autoritárias. Por outro lado, trata-se de analisar as instituições democráticas e o seu papel na “fadiga democrática” assim como sua capacidade de fazer respeitar as normas constitucionais de resolução de conflitos políticos. Como se trata não de evoluções locais isoladas senão de tendências transnacionais, deve-se estudar como os processos se entrelaçam (ou se opõem) nas Américas. São esperadas propostas de estudos de caso de constelações de crise democrática na atualidade (ou em momentos históricos com vínculo à época atual), mas também trabalhos teóricos sobre relação entre sociedade e democracia. Finalmente, esperam-se propostas que não só sejam contribuições para entender melhor a mencionada crise, seus fatores e causas, mas também possíveis saídas e perspectivas, as quais também sejam úteis para a compreensão dessa crise em outras partes do planeta.

 

Chamada

Para a Chamada para a Cátedra de 2023, o projeto de pesquisa que será realizado deve estar relacionado com a questão das crises políticas, conforme acima exposto, em uma abordagem interdisciplinar e transregional, que também pode ser histórica, desenvolvendo uma visão inovadora do tema da democracia.

Podem candidatar-se acadêmicos com atuação em pesquisa em Ciências Humanas ou Sociais, de qualquer nacionalidade. O grau acadêmico mínimo exigido é o doutorado completo anterior à data de submissão da proposta. Além disso, serão avaliados os trabalhos apresentados e a trajetória acadêmica, especialmente no âmbito do tema principal e a qualidade do projeto apresentado.

O CALAS e o IEAT/UFMG estão comprometidos com a inclusão e a paridade de gênero.

 

Condições da Cátedra

A Cátedra CALAS-IEAT ofertará uma bolsa com uma remuneração compatível com a remuneração anterior do pesquisador selecionado, para uma estadia de até 3 (três) meses, a ser paga diretamente pelo projeto na Alemanha. Essa bolsa inclui os gastos de visto, hospedagem, seguro médico, materiais de trabalho e remuneração pessoal. No caso do requerente ocupar um cargo permanente, a subvenção pode ser utilizada para financiar um substituto temporário. Além disso, a Cátedra cobrirá os gastos da passagem aérea de ida e volta para Belo Horizonte e para a sede principal do CALAS, em Guadalajara, México.

O IEAT / UFMG providenciará um lugar de trabalho devidamente equipado (computador, acesso à internet, etc.) e acesso às bibliotecas da Universidade. Além do mais, o(a) catedrático(a) terá o apoio de assistentes estudantis.

Os(as) candidatos(as) deverão apresentar anuência de um(a) pesquisador(a) da UFMG como contato e “anfitrião(ã)”, que o(a) apoiará na coordenação de suas atividades na UFMG. Para informações sobre os(as) acadêmicos(as) e possíveis parceiros da UFMG confira http://somos.ufmg.br/.

 

Tarefas previstas para a Cátedra CALAS-IEAT

• Projeto de pesquisa no Brasil, com concordância do(a) anfitrião(ã).

• Escrever, pelo menos, um artigo acadêmico sobre os resultados do projeto. A busca de um meio de publicação adequado é de responsabilidade do catedrático.

• Apresentar os resultados do projeto em uma conferência magistral na UFMG.

• Apresentar os resultados do projeto em uma palestra magistral na sede principal do CALAS, em Guadalajara, México.

• Realizar pelo menos três atividades acadêmicas transdisciplinares (com outros(as) pesquisadores(as) e/ou na pós-graduação), no âmbito da UFMG, relacionadas com o tema da pesquisa da Cátedra CALAS-IEAT. Essas atividades devem ser coordenadas pelo(a) pesquisador(a) “anfitrião(ã)” da UFMG.

• Entregar um relatório final sobre as atividades realizadas durante a Cátedra, ao mais tardar, três meses depois do fim da estadia.

 

Candidatura

Preencher o formulário de candidatura em linha e anexá-lo juntamente com os seguintes documentos em português, espanhol ou inglês:

• Carta de motivação, na qual se demonstrem as qualidades para ocupar a Cátedra, assim como as expectativas e os objetivos.
• Resumo do projeto de pesquisa, incluindo um cronograma e um plano de trabalho com, no máximo, 2.000 (duas mil) palavras e 20 (vinte) fontes bibliográficas, com concordância do anfitrião(ã).
• Curriculum vitae de duas páginas e uma lista das publicações mais relevantes.
• Cópia do diploma de doutorado.
• Carta de anuência do(a) pesquisador(a) anfitrião(ã) na UFMG.

 

Processo de Seleção

Um comitê científico internacional do CALAS e do IEAT/UFMG fará a seleção. Não caberão recursos quanto aos resultados.

As candidaturas que não preencherem os critérios do edital serão eliminadas.

Os projetos serão avaliados quanto aos seguintes aspectos: relevância, contextualização do problema na América Latina, articulação teórica adequada, objetivos claros, metodologia pertinente, transdisciplinaridade, apresentação dos produtos acadêmicos esperados, presença ou indicação de encaminhamento ou proposta de solução. O curriculum vitae será adotado como critério de desempate.

O nome do candidato aprovado será disponibilizado no site do IEAT/UFMG (https://www.ufmg.br/ieat/) e no site do CALAS (http://www.calas.lat/en).

Datas importantes

• Lançamento da Chamada: 06 de dezembro de 2022
• Prazo para submissão de propostas: 16 de abril de 2023
• Resultados: 15 de maio de 2023
• Início da cátedra: 01 de setembro de 2023

 

Informações sobre a Cátedra

Prof. Estevam Barbosa de Las Casas, IEAT/UFMG.

Tel.: +55-31-9 9239-4999   e-mail: direitoria@ieat.ufmg.br

 

Dr. Jochen Kemner, Centro María Sibylla Merian de Estudios Latinoamericanos Avanzados.

Tel.: ++52 33 3819 3000 (ext. 23594), e-mail: info@calas.lat